
Pouco a pouco foi surgindo como um sonho grandioso, dei-lhe asas e arrisquei. Era lindo este sonho, eu queria voltar a ser mãe!
O risco era imenso, punha em jogo uma carreira, modificava a minha vida, era principalmente algo que podia nunca acontecer, e pior causar-me grande sofrimento físico e psicológico. Já o sabia porque seria a terceira vez que arriscava.
Mas o sonho não passava e pouco a pouco fui encontrando as respostas, as que a vida sempre nos dá, para que o sonho se torna-se cada vez mais real.
Sabia que ia ser difícil, que o trajecto era duro, que este sonho podia evaporar-se, mas não conseguia desistir. A vontade já dominava o coração e não permitia dúvidas, nem tão pouco qualquer recuo.
Cheia de ansiedade, porque nem o sonho tranquiliza a mente, caminhei, passo a passo, arrisquei e lutei. Os primeiros 3 meses eram definitivos, eu sabia-o muito bem. Apesar dos sinais serem os mesmos das vezes anteriores não perdi a fé.
Engravidei, passei pelo inferno e voltei, e quando tudo parecia bem, eis que chega a noticia de que tudo podia estar a correr mal. O meu filho podia sofrer de diversos problemas. Podia? Porque ninguém queria assumir nada, apenas dúvidas, mas pelas estatísticas e probabilidades, não havia que pensar, só agir - diziam eles!
Mas eu amei-te ainda antes de existires, num amor pouco humano até, uma paixão desmedida, um amor pelo qual se dá a vida.
Assim e depois de todos me aconselharem a fazer o que segundo eles era certo, porque o risco era imenso, corri desesperada. Queria ouvir todas as opiniões, precisava de uma só que aquietasse o meu sofrimento. Recordo todos os olhares, de espanto e admiração. Como podia eu afinal ainda levantar qualquer questão. Seria louca? Queria sofrer? Ninguém queria arriscar, somente eu continuava com esperança, aquela que sempre habitou o meu coração. Questionei todos os médicos, cansei-os até à exaustão! Queria respostas concretas e que olhassem e vissem uma mãe grávida e aflita. Mas não era isso que viam, limitavam-se ao silêncio e a um franzir de testa, que me causava uma dor imensa.
Depois de tanto pensar só uma verdade existia, o meu sonho ia realizar-se porque eu decidira dar-lhe vida!
Depois de ultrapassar os limites da ansiedade, chegou o momento da verdade. Confesso que já nem estava preocupada, somente te queria ver, ter e amar.
Eras enorme e tão lindo! Abracei-te entre tremores, lágrimas e sorrisos. Vi que aparentemente eras perfeito, mas que importava, eu sentia-me no céu, no paraíso, nas nuvens, tal era a felicidade. Para mim eras saudável , brilhante, o meu menino jesus, mais do que eu podia querer, mais do que podia imaginar. Algo que mais tarde os médicos vieram a confirmar.
Hoje tem 9 anos, temos um pelo outro um amor puro e incondicional. Faz -me sorrir, rir, cantar, só de ver aqueles olhos grandes, imensos, sempre a brilhar. Entendo-o mesmo quando não fala, ele ri e diz que eu adivinho. Eu respondo que é por ser mãe e sorrio, sempre sorrio para ele.
Os sonhos podem realizar-se, acreditem! Mas também há que lutar.
Amanhã é dia da criança, para mim é só mais um dia. As crianças são e merecem ser crianças todos os dias.
Para todas as mães que um dia arriscaram dar vida aos seus filhos, ainda que se levantassem dúvidas, o meu abraço cheio de amor, ternura e compreensão. Ás crianças, que posso eu dizer? Que merecem ser amadas, protegidas e cuidadas. Feliz dia da criança, hoje e todos os outros dias.
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Paula Minau